terça-feira, fevereiro 26, 2008

A difícil arte de ser humano

Tem coisas que a gente ouve falar, assiste de vez em quando nos noticiários, mas acha difícil acreditar que seja verdade. Sobretudo quando moramos em cidades mais desenvolvidas ou em áreas de nível médio para cima, em qualquer cidade do país.

Explico. De vez em quando aparecem essas notícias de pais que maltratam os filhos, prendem em casa ou nos carros pra ir a festas, acorrentam filhos na cama ou os mantém em condições precárias dentro de casa. Bom, sempre que vejo uma notícia dessas fico pensando como é que podem haver aberrações assim, pais tão cruéis e desumanos que têm capacidade de maltratar tanto seus próprios filhos.

Há cerca de dois meses venho presenciando fatos que me levaram a repensar esses questionamentos e imaginar quão pouco sei da realidade mais difícil da vida humana. Um velho amigo contratou uma empregada doméstica para tempo integral, inclusive dormir no emprego. Ocorre que essa garota tem 19 anos e um filho que acaba de completar um ano. Na verdade ela foi contratada porque já trabalhava para a família da esposa desse amigo, em uma cidade do interior de Pernambuco. Como o pai da criança abandonou a mãe com o bebê, meu amigo e a esposa resolveram ajudá-la trazendo-a para trabalhar aqui em Jaboatão, aonde certamente mãe e filho teriam mais chances de um futuro digno e melhor atendimento às necessidades do bebê.

Meus amigos, confesso que nunca vi até hoje uma mãe ou mesmo mulher tomando conta de criança e com tão pouco tato para isso. Das coisas bizarras que tenho observado posso citar: deixar o filho sem comer por longos períodos porque está mais concentrada no serviço da casa; descuidar do lugar onde está o bebê, apesar ter aqui uma piscina e de já termos tomado vários sustos, pensando que o pimpolho havia caído nela; deixar o menino todo sujo e babado, se acabando de chorar, sem ir limpá-lo e dar atenção etc etc etc.

Curioso e cara-de-pau que sou, comecei a conversar com a dita mãe para tentar entender o porquê daquele comportamento tão irresponsável e o que tenho constatado até agora é espantoso: pura ignorância e falta de noção sobre as coisas mais simples a respeito da criação de um bebê (e sobre outras coisas da vida também). A menina (melhor modo de descrevê-la) não tem estudo, freqüentou a escola até a oitava série, mas se dissessem que foi só até a quarta não faria diferença. Quando chegou aqui costumava falar com o filho de 1 ano como se ele tivesse 5 ou 6 e já conseguisse articular a fala e entender exatamente o que ela quer.

Ouço várias vezes ela gritando com o menino assim: “você ta teimando comigo, menino?”, ou “eu falei pra você ficar aqui e não ir pra lá”, ou ainda “agüenta um pouco que já já faço sua comida” (uma das frases mais faladas). Diante da situação calamitosa estamos tentando explicar a ela da melhor forma possível ela falando ou o cachorro latindo dá praticamente na mesma para o menino. Ele só entende o tom de voz e monossílabos básicos como sim e não, quase nada além disso.

Aí eu fico imaginando como são criadas essas crianças no sertão bravo, lá onde falta tudo e escola é só algo que os políticos prometem construir, mas nunca realizam... Me faz pensar que muitas atrocidades e crueldades cometidas por esse Brasil afora são fruto também da mais dura e pura ignorância e da falta das noções mais simples de segurança, higiene, saúde e convivência. Claro que há pais realmente maus e criminosos, com estudo e condições financeiras privilegiadas, pois riqueza não é sinônimo de caráter e educação, e vice-versa.

É triste, pessoal, muito triste. Resolvi compartilhar com vocês essas agruras e pedir que comentem se já tiveram experiências parecidas ou encontraram pessoas semelhantes a essa mãe despreparada.

E desculpem o texto tão grande. Ia ficar muito maior, mas me contive.

Nenhum comentário: